Da janela da minha atual residência vejo o Natural History Museum. Mas não é somente esta minha nova visão. Estou enxergando a vida de uma forma diferente. Um quarto complementa meu mundo atual. Mas não é qualquer quarto, e sim, minha nova casa. Os momentos que antecederam a mudança da casa da Anne, foram estranhos, tenho que confessar. Acordei ontem às 6h50 - horário britânico, para terminar de arrumar as malas. Já havia reservado o táxi para me pegar às 8h. E fui contemplada com uma surpresa no café da manhã: a Anne preparou pela 1ª vez ovos mexidos com torradas. Conversamos um pouco, atentas às notícias da BBC. E de repente nos vimos sentadas na sala, à espera do carro, visivelmente cansadas e ansiosas - eu, em relação à nova etapa da minha vida que estava prestes a começar, e ela, em vias de retomar a rotina de morar sozinha e com saudades antecipadas pela minha partida - palavras dela. O goodbye foi em meio a um forte abraço, um thank you very much, um you're welcome any time, my dear, enquanto minhas malas eram colocadas no carro pelo motorista de Bangladesh. E até eu partir ela ficou na porta, sorrindo e acenando.
A chegada à residência estudantil foi rápida: às 8h20 já estava com minha bagagem na recepção, perguntado à uma das Sisters se meu quarto já estava vago para que pudesse deixar minhas coisas antes de ir à escola. Em virtude da resposta negativa, deixei tudo ali mesmo e fui cantarolando Hello, Hello / I don't know why you say goodbye and I say hello pelo caminho. Definitivamente eu estava super feliz de estar ali, podendo ir a pé à Frances King, sem ter que carregar meu computador na mochila pelo fato de agora contar com Internet a qualquer hora do dia ou da noite, e claro, pelo fato de estar rodeada de estudantes de várias partes do globo. Ou seja: línguas e culturas diferentes, novas oportunidades de aprendizado. A tarde conheci meu novo espaço e as malas foram desfeitas. Num papel, anotei o que precisaria comprar para minha nova casa: toalhas de banho e rosto e caneca para colocar os apetrechos bucais (escova de dentes, creme dental e fio dental). No começo da noite estava exausta e feliz, apreciando cada detalhe. As novas descobertas começaram com a localização dos banheiros e chuveiros do meu andar. Depois foi a vez de aprender o caminho para o refeitório. E às 22h30, descobrir aonde é o salão de jogos, para participar da festa de despedida de um dos hóspedes.
Após jogar algumas partidas de bilhar e me familiarizar com o pessoal, era chegada a hora de repousar finalmente. Mas como dormir se as cortinas não fechavam? O jeito foi improvisar, usando os pregadores do meu varal portátil para uni-las e descansar melhor. Agora a residência está tranquila. Muitos dos 78 hóspedes está viajando devido ao recesso de duas semanas em comemoração à Páscoa. Isso com certeza contribuiu para a boa qualidade do meu sono. Acordei sorrindo, afinal de contas, sou dona do meu nariz, faço o que bem entender, na hora que bem quiser! Tenho as chaves da porta de entrada e do meu quarto, ningúem me impede de sair ou de chegar. Tenho acesso à Internet e o prazer de poder usar meu computador a qualquer hora, da minha casa, é inigualável. É um privilégio olhar pela janela e ver o Natural History Museum. Mas essa não é visão mais bonita desse novo momento de vida. O melhor é poder vivenciar os resultados das minhas escolhas de uma maneira tão plena e perceber como eles estão mudando a visão do meu próprio mundo...