Hoje a tarde minha vida mudou no momento em que virei a esquina da rua de casa. Vi uma senhora curvada, andando com muita dificuldade. De repente ela caiu de joelhos no chão. Fiquei sem saber o que fazer e pensei em continuar caminhando. Mas ai uma mulher parou para ajudá-la e sem me dar conta fiz o mesmo. A senhora não conseguia falar nem se mexer direito, suas mãos tremiam. Perguntei se ela queria um táxi, e ela respondeu com dificuldade que estava quase chegando ao médico, próximo dali.
A outra mulher e eu a levantamos e fomos com ela até o consultório. Perguntamos se ela queria falar com algum familiar, e ela nos disse que não era necessário. Já na recepção pedi licença às outras duas pessoas que estavam na fila e disse que era uma emergência. A recepcionista nos disse que os atendimentos emergenciais só seriam feitos a partir das 15h - completo absurdo, e eu disse que não poderiamos esperar tanto tempo.
Os dedos da mão esquerda da senhora abriam e fechavam em movimentos involuntários, e uma de suas pernas tremia sem parar. Ela nos disse que morava em Notting Hill e perguntou nossos nomes. Soube que a outra mulher era portuguesa e se chamava Sara, e eu me apresentei em seguida. A senhora nos disse que rezaria por nós duas hoje a noite, em agradecimento pelo que fizemos por ela. Fiquei super tocada com a situação e tentei disfarçar as lágrimas indo atrás de um copo d'água para ela.
Ai foi a minha vez de perguntar o seu nome, e com dificuldade ela respondeu ser Beatrice. Eu disse à ela que significava "aquela que traz felicidade".
Logo em seguida uma enfermeira pediu que a Beatrice entrasse em uma sala, e fui testemunha de uma cena linda de solidaredade, na qual a Sara perguntou à Beatrice se ela gostaria de companhia. A senhora respondeu que sim, mas que não queria atrapalhar os compromissos da Sara, que simplesmente disse: "Não se preocupe comigo. Eu só tenho que esperar pela minha filha em casa. E de qualquer forma, eu prefiro ficar com você".
Eu me despedi de ambas, completamente emocionada, e cheguei chorando em casa. Chorei muito, mas muito mesmo, e queria entender exatamente o que me fazia chorar tanto. E descobri que, em primeiro lugar, foi a atitude da Sara, sua extrema generosidade e entrega - diferentemente de mim, que num primeiro momento pensei em seguir caminhando pela rua sem ajudar Beatrice.
E depois me dei conta de que não tenho estrutura emocional para realizar o sonho de ser clown doctor para crianças hospitalizadas. Trouxe comigo na mala meu nariz de palhaço, meu caderno de anotações e a roupa da Augusta - o nome do meu palhaço. Já havia entrado em contato com a Theodora Children's Trust - ONG inglesa com atuação semelhante a dos "Doutores da Alegria" no Brasil, para poder participar do próximo treinamento, mas nada disso adianta se eu não tenho condição emocional de lidar com alguém que está passando mal.
O palhaço que atua com crianças hospitalizadas tem que estar preparado para lidar com situações extremas o tempo todo, e apesar de saber muito bem disso na teoria, hoje eu tive um exemplo de como seria na prática - não importa que tenha sido com uma senhora.
Desde o final do ano passado algumas verdades que eu tinha como sendo absolutas têm se transformado e mudado radicalmente a minha vida. O encontro com a Beatrice hoje mudou mais uma delas. Eu só espero que em breve eu consiga enxergar como positiva mais esta lição que a vida me deu, já que nesse momento eu estou completamente perdida e não tenho idéia de que caminho seguir.
A outra mulher e eu a levantamos e fomos com ela até o consultório. Perguntamos se ela queria falar com algum familiar, e ela nos disse que não era necessário. Já na recepção pedi licença às outras duas pessoas que estavam na fila e disse que era uma emergência. A recepcionista nos disse que os atendimentos emergenciais só seriam feitos a partir das 15h - completo absurdo, e eu disse que não poderiamos esperar tanto tempo.
Os dedos da mão esquerda da senhora abriam e fechavam em movimentos involuntários, e uma de suas pernas tremia sem parar. Ela nos disse que morava em Notting Hill e perguntou nossos nomes. Soube que a outra mulher era portuguesa e se chamava Sara, e eu me apresentei em seguida. A senhora nos disse que rezaria por nós duas hoje a noite, em agradecimento pelo que fizemos por ela. Fiquei super tocada com a situação e tentei disfarçar as lágrimas indo atrás de um copo d'água para ela.
Ai foi a minha vez de perguntar o seu nome, e com dificuldade ela respondeu ser Beatrice. Eu disse à ela que significava "aquela que traz felicidade".
Logo em seguida uma enfermeira pediu que a Beatrice entrasse em uma sala, e fui testemunha de uma cena linda de solidaredade, na qual a Sara perguntou à Beatrice se ela gostaria de companhia. A senhora respondeu que sim, mas que não queria atrapalhar os compromissos da Sara, que simplesmente disse: "Não se preocupe comigo. Eu só tenho que esperar pela minha filha em casa. E de qualquer forma, eu prefiro ficar com você".
Eu me despedi de ambas, completamente emocionada, e cheguei chorando em casa. Chorei muito, mas muito mesmo, e queria entender exatamente o que me fazia chorar tanto. E descobri que, em primeiro lugar, foi a atitude da Sara, sua extrema generosidade e entrega - diferentemente de mim, que num primeiro momento pensei em seguir caminhando pela rua sem ajudar Beatrice.
E depois me dei conta de que não tenho estrutura emocional para realizar o sonho de ser clown doctor para crianças hospitalizadas. Trouxe comigo na mala meu nariz de palhaço, meu caderno de anotações e a roupa da Augusta - o nome do meu palhaço. Já havia entrado em contato com a Theodora Children's Trust - ONG inglesa com atuação semelhante a dos "Doutores da Alegria" no Brasil, para poder participar do próximo treinamento, mas nada disso adianta se eu não tenho condição emocional de lidar com alguém que está passando mal.
O palhaço que atua com crianças hospitalizadas tem que estar preparado para lidar com situações extremas o tempo todo, e apesar de saber muito bem disso na teoria, hoje eu tive um exemplo de como seria na prática - não importa que tenha sido com uma senhora.
Desde o final do ano passado algumas verdades que eu tinha como sendo absolutas têm se transformado e mudado radicalmente a minha vida. O encontro com a Beatrice hoje mudou mais uma delas. Eu só espero que em breve eu consiga enxergar como positiva mais esta lição que a vida me deu, já que nesse momento eu estou completamente perdida e não tenho idéia de que caminho seguir.